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MINHA HISTÓRIA DE COLECIONADOR

Tudo começou numa brincadeira descompromissada juntamente com uma matéria no jornal da cidade. Sou de Caxias do Sul, RS e em 2007 abriu a primeira loja de cervejas importadas da cidade e eu como um curioso, fui na loja. Estava feita a bobagem, nunca mais parei... kkkk. Em dezembro de 2007, mais especificamente dia 19, comprei minha primeira cerveja da coleção para um jantar em família. Foi uma cerveja alemã defumada, chamada Aecht Schlenkerla Rauchbier Marzen. Tão complexa e interessante como o próprio nome. 

Depois de aberta e de ter desfrutado da mais interessante cerveja que já havia tomado, até o momento, resolvi guardar o rótulo e colocar numa pasta com um ficha (criada por mim) de avaliação, onde eu poderia escrever com quem eu tinha tomado a cerva, nossas colocações sobre ela e uma pequena avaliação e história. Não sei bem porque fiz isso, mas eu havia começado ali, naquele momento, umas das minhas melhores e maiores coleções.

 

Hoje continuo colecionando e degustando os mais variados estilos de cervejas mundiais e nacionais e para comemorar e poder passar para todos o que eu já vive nesse mundo cervejeiro, criamos esse site. Assim todos poderão acompanhar e opinar sobre cerveja, saber dos eventos da região, ler os artigos relacionados e me ajudar a chegar a 2 mil cervejas tomadas.

 

Desejo saúde a todos. PROSIT.... e aquele grande abraço...

 

Daniel. 

REPORTAGEM DO JORNAL PIONEIRO - 31 de março de 2017

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Caxiense que já experimentou 999 cervejas fabrica a milésima para brindar com os parceiros de copo​.

Se um dia receber de Daniel Schüür o convite para degustar uma cerveja, aceite. Primeiro, porque o caxiense de 37 anos não irá propor um brinde destes sucos de arroz e milho disfarçados que se vendem em latões e latinhas por aí. Segundo, porque o seu nome estará eternizado na cuidadosa lista de, até aqui, 197 pessoas que já compartilharam algumas das 999 variedades que Schüür experimentou ao longo dos últimos 10 anos, desde o dia em que se propôs a catalogar por rótulos cada sabor apreciado da bebida.

Comparado ao desafio atual, pode-se considerar que não foi difícil para o descendente de alemães sorver uma milha de variações de água, cevada, lúpulo e levedura. Mais duro tem sido rejeitar convites, ignorar prateleiras e manter o mouse longe dos anúncios enquanto aguarda ficar pronta a cerveja que tem reservada a senha número 1.000, elaborada pela família Schüür num cuidadoso processo de tentativa e erro. Quando a mistura der liga, por meados de abril, os amigos serão convidados a esvaziar o barril de 20 litros da American IPA, em evento comemorativo ao advento do quarto dígito. Uma jornada que em 2007, quando a maratona etílica começou, não dava amostra de chegar sequer aos três dígitos.

— Não era como hoje. Passei por todos os bares e supermercados de Caxias e encontrei oito tipos. Foi frustrante. Achei que não chegaria nem a 100 cervas. Fui salvo pela internet, conhecendo uma loja online aqui e outra ali. Nisso, alguns amigos que estavam viajando já ligavam perguntando se eu conhecia tal marca, para me trazer de presente. Assim foi crescendo — conta.

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Tudo partiu de um insight, como costumam se manifestar as melhores ideias, por vezes avessas a projetos e planejamentos. Por um anúncio de jornal, Schüür soube que seria inaugurada em Caxias a Bier Haus, pub e loja de cervejas na Rua Tronca. Como bom germânico, atendeu ao chamamento. E viu que era bom. A ponto de nunca mais parar.

Entre a lager alemã Schlenkerla, experimentada naquele dia e avaliada como "interessante e diferente", e a brasileiríssima weiss DiTriguis, homenagem ao mais icônico dos Trapalhões que recebeu o adjetivo "excelente", foram centenas de degustações com as mais diversas companhias e as mais diversas situações, todas devidamente catalogadas.

— Minha namorada já tomou comigo 483 cervejas, sendo que quando nos conhecemos eu já estava lá pelo número 400. Mas olha só que curioso... Esse Heitor (aponta para a planilha) é um grande amigo, mas só tomamos duas cervejas juntos. Vou ter que ligar pra ele e esclarecer isso — brinca Schüür, ao passar os olhos pelo ranking dos parceiros de copo.

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Personal trainer, a namorada Silvia Crocoli, 30, comenta que até conhecer Daniel, só conhecia e apreciava a tradicional cerveja Pilsen. Mas embarcou com gosto no hobby: Achei curioso que a família dele gosta de colecionar coisas. A mãe gostava de corujinhas, tem uma prima que coleciona copos. Mas a do Daniel é diferente, porque não se trata de objetos, e sim de experiências — elogia.

Em 2013, a paixão por desbravar novas marcas passou a dividir as atenções com a fabricação da própria bebida, numa fabriqueta no porão. Schüür considera a descoberta de um sabor original e a ansiedade pelo resultado da própria produção prazeres distintos e sem comparação. Virou tradição familiar presentar os amigos com a produção caseira, em garrafas cujos rótulos são caricaturas deles próprios, caracterizados para a devida ocasião do presente, como o Natal. Parceiro de alquimia e segundo colocado entre aqueles que mais brindaram com Daniel, ostentando 381 prosit! bradados, o pai Germano Schüür, 71, professor aposentado de Fotografia da UCS, é puro orgulho:

— Tem satisfação maior para um pai alemão que um filho que fabrica cerveja em casa? E que ainda faz coleção e me convida pra beber junto? Impossível!

Daniel não sabe definir se é colecionador, sommelier, um insaciável curioso ou apenas um maluco por listas. Certeza é que há 10 anos ele já não é mais o arquiteto formado, que trabalha mantendo o estúdio de fotografia do pai em Nova Petrópolis. Em alguma escala que só o tempo saberá dizer, caminha para se tornar uma autoridade entre bebedores, como se fosse resenhista de discos ou livros. Trabalha na criação de um blog, onde legará ao mundo o conteúdo das mais de 10 pastas onde metodicamente arquivou as 999 cervejas saboreadas. E após provar a milésima, acordará em busca da milésima primeira.

— A cerveja virou meu estilo de vida. Se vou visitar um amigo, levo a câmera numa mão e a sacolinha da cerveja na outra. Vivo entre a fotografia e a cerveja, às vezes misturando as duas coisas. Mas não bebo muito, só bebo com qualidade. Com toda a oferta que tem hoje, sei que não experimentei nem metade das cervas que se pode encontrar em Caxias. Não vou parar agora. Quero ver até onde posso chegar — projeta, com a insatisfação dos obstinados.

Imagine o leitor que um apaixonado por vinho viaja pela França e seu mapa indica que, a poucos quilômetros, encontra-se a mítica região de Bordeaux, terra de alguns dos mais nobres tintos. Porém, é impossível adentrá-la porque o roteiro programado está atrasado e existe a real ameaça de perder o voo para o próximo destino. Transportando para o drama real de Daniel Schüür, Bordeaux seria a Bélgica, éden da cerveja reconhecido mundialmente, e que para o caxiense representa a predileção cervejística absoluta. E no entanto, durante o passeio da família pelo Velho Continente em 2008, sentiu apenas o aroma imaginado das fortes cervejas belgas.

— Passar ao lado da Bélgica e não entrar foi uma tortura. Estive a dois passos do paraíso — lamenta.

Para afogar as mágoas, Schüür desembarcou no lugar certo. Na Alemanha, enriqueceu a coleção de rótulos com 45 novidades e algumas experiências sem preço.

— Tomamos uma cerveja no bar mais alto da Alemanha, no topo de um monte a 3 mil metros de altura. Como eles vendem a cerveja em temperatura ambiente e eu prefiro gelada, enfiei a garrafa na neve e fui dar uma volta enquanto gelava. Incrível como em diversos bares alemães sequer existe refrigerador — comenta.

Também foi na Alemanha que Daniel teve a experiência mais desgostosa com a bebida. Só após entornar o primeiro gole caprichado e verificar um gosto estranho percebeu que fora seduzido por um rótulo bonito: era cerveja com Coca-Cola, mistura que depois descobriu ser comum no país de Goethe, Nietszche e Schopenhauer. Outras que desceram quadradas foram uma cerveja peruana a base de folhas de coca, saboreada no antigo território inca, e uma frutada com cereja degustada em Florença, na Itália, que o próprio dono do bar alertou que não era boa. Mas igual a quase tudo na vida, vale pela experiência.

Conhecer mais cervas estrangeiras é novo foco de Daniel. Não é sobre dar a volta ao planeta, mas sim encomendar ou importar os sabores de países as quais o seu paladar não foi apresentado. Se o mundo fosse um tabuleiro de War a ser coberto por tampinhas, já foram conquistadas 43 nações. Das 999 que experimentou, menos da metade é brasileira: 434. Alemãs são 140 e as belgas completam o pódio com 90. Até países que só se ouve falar nas Olimpíadas ou no Miss Universo, como Ilhas Fiji e Filipinas, figuram na ainda incipiente planilha internacional do cervejeiro. Se considerar que a ONU tem 193 países filiados, ainda há muito a desbravar. 

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